terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um movimento separatista nasce no RS




                                         A algum tempo no o Rio Grande do do Sul existe uma divisão, norte desenvolvido industrializado e em crescimento, e o sul pobre e estagnado para isso o estado foi dividido em metade norte e metade sul.


DESIGUALDADES REGIONAIS NO RIO GRANDE DO SUL: O CASO DA
METADE SUL∗
Adayr da Silva Ilha*
Fabiano Dutra Alves*
Luis Hector Barboza Saravia*
RESUMO:
A economia gaúcha vem demonstrando uma grande discrepância regional tanto em termos
sociais como em termos econômicos. Nesse contexto, o presente trabalho visa a partir da
constituição histórica e da dinâmica econômica do Rio Grande do Sul efetuar alguns
esclarecimentos a respeito do processo de desigualdades regionais. Para tanto começar-se á a
análise a partir do século XIX, procurando desta forma verificar o ápice destas desigualdades,
além de identificar os setores dinamizadores e suas devidas características em cada região,
bem como focar o processo histórico do declínio econômico da Metade Sul e seus principais
determinantes. Nesta perspectiva alguns resultados obtidos, foram à constatação do latifúndio,
do pouco empreendedorismo, e grande conservadorismo dos capitalistas da chamada Metade
Sul, sendo este fator determinante da estagnação da região, enquanto que na Metade Norte o
desenvolvimento foi calcado em bases capitalistas européias. As conclusões adjacentes ainda
nos mostram uma Metade Sul, especializada no setor primário e uma Metade Norte com
comércio artesanal ativo e industrias crescentes no eixo de Porto Alegre, além de pequenas
propriedades rurais, e uma agricultura voltada para subsistência, o que sem dúvida, propiciou
o grande desenvolvimento desta região. Outros resultados mostram que a baixa densidade
demográfica, o mercado limitado e a inexistência de economias de aglomeração ainda são um
grande empecilho para o desenvolvimento regional da Metade Sul do Rio Grande do Sul e
tornam-se sobremaneira fatores de expulsão de investimentos.
Palavras chaves: Desenvolvimento Regional, Metade Sul, Formação Econômica
∗ Artigo elaborado a partir da pesquisa financiada pela FAPERGS, sob o título “A necessidade de uma política
regional comum no Mercosul”, tendo apoio científico do Núcleo de Estudos Multidisciplinar do MILA.
* Profº Adjunto do Curso de Ciências Econômicas
* Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas-
* Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas2
Introdução:
Atualmente a chamada Metade Sul do Rio Grande do Sul, apresenta-se como uma região
em profundo processo de estagnação, inclusive enquadrado em programas de desenvolvimento
regional, em âmbito nacional 1.
No contexto das desigualdades regionais, a Metade Sul apresenta uma situação ímpar no
Estado, onde as estruturas produtivas são totalmente diferentes da Metade Norte do Rio
Grande do Sul. No decorrer da evolução histórica, o desenvolvimento da Metade Sul delineiase,
numa região onde predomina a pecuária e posteriormente a lavoura de arroz, o que denota
esta área como predominantemente agrária.
Já o processo histórico de desenvolvimento, da Metade Norte revela uma sociedade
caracterizada por pequenas e médias propriedades que foram a base para a presença de
industrias e consequentemente das grandes concentrações urbanas.
Dentro deste amplo processo de desigualdades regionais por que vem passando o Rio
grande do Sul, será situado no tempo e no espaço a constituição da dinâmica econômica do
Estado, começando a análise a partir do século XIX, passando pela economia charqueadora,
que era a mola propulsora do setor econômico do Rio Grande do Sul, até chegar na inserção
industrial da economia gaúcha que hoje é uma das mais bens aparelhadas do Brasil.
Assim, tendo como referência o processo histórico de estagnação da Metade Sul, este
artigo pretende, de uma forma muito breve, discutir: a) o contexto das desigualdades regionais
no Estado; b) o aprofundamento das desigualdades regionais na Metade Sul; c) o processo de
inserção dos setores produtivos na economia gaúcha e como eles determinaram esta situação
atual de desigualdades regionais.
Por fim é apontado algumas razões para a existência desta incrível discrepância entre as
Metades do Rio Grande do Sul e principalmente faz-se um chamado, para toda a sociedade,
(empresários, governo, Universidade, órgãos de pesquisa e demais instituições) a fim de que
propiciem possíveis formas de reconversão para a economia da Metade Sul, pois caso
contrário a tendência é o processo gradual e contínuo de estagnação.
1 Programa de Fomento e Reconversão Produtiva da Metade Sul do Rio Grande do Sul, (RECONVERSUL),
com recursos alocados do BRDE, (linha de crédito do BNDES).
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1 O Contexto das Desigualdades Regionais no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul da atualidade é constituído, fundamentalmente por três grandes
regiões, sendo a primeira, por ordem cronológica de formação, o sul caracteristicamente
agrário, constituído de forma aproximada, pelas áreas ao sul dos rios Jacuí e Ibicuí.
Nessa região predominam a grande propriedade, a pecuária e a lavoura do arroz,
adotando uma metodologia que é usada para designar esta região com toda sua problemática
sócio-econômica que historicamente vem ocorrendo no contexto desta parte do Estado, se
chamará esta região de Metade Sul.
Outra região é a norte, também predominantemente agrária, (compreende grosso modo a
área do planalto), é caracterizada pelas pequenas e médias propriedades. É uma região muito
heterogênea, onde a produção inicialmente diversificada cedeu espaço para as lavouras
mecanizadas de trigo e soja.
A última região é a nordeste, que se caracteriza pela presença de vários setores
industriais, juntamente com grandes concentrações urbanas2.
Esta região é constituída pelo eixo Porto Alegre – Caxias do Sul e por algumas áreas no
seu entorno, onde forma o parque industrial que gradualmente deslocou a agricultura e
assumiu o papel hegemônico na base da economia local.
Essas duas regiões (norte e nordeste), se enquadram na chamada Metade Norte do estado
do Rio Grande do Sul, que ao longo do tempo apresenta um processo de crescimento e
desenvolvimento econômico, bem superior à média estadual.
Para que se verifique melhor o processo diferenças entre a Metade Sul e a Metade Norte,
Sul,a análise parte do ponto onde a Metade Sul era a região de maior dinamismo da economia
do Estado, pois ela articulava-se com a economia do centro do país através do fornecimento de
charque, alimento consumido pelos escravos e pelas camadas mais pobres das populações
urbanas.
Sobre isto Alonso e Bandeira (1990, p. 71) colocam que “O charque viabilizou
economicamente a efetiva ocupação do território gaúcho e ajudou a construir a prosperidade
de Pelotas, núcleo onde se encontrava o maior número de charqueadas, e de Rio Grande, porto
2 Essa concepção de regiões foi retirada de Almeida (1990, p. 70-71). A economia gaúcha e os anos 80.
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através do qual o produto era exportado, que eram os principais centros urbanos da região
Sul”.
O ciclo do charque ainda fez com que se consolidasse a área da campanha, (região que
faz fronteira com o Uruguai), onde provinham os animais para o abate.
Conforme Fonseca (1983, p.57) “A nossa indústria mais rendosa, a que produz mais
para o Estado e para os particulares é a do charque; mas é certo que é uma indústria
transitória”.
A sociedade constituída pela pecuária e pelo charque na Metade Sul caracterizava-se
pela concentração da propriedade e da renda, existindo um reduzido número de assalariados,
já que a pecuária não exigia grande contingente de mão de obra.
Nesse período de apogeu da indústria do charque, a Metade Norte era a região mais
atrasada do Estado, sendo que algumas porções do Alto Uruguai só vieram a ser ocupadas na
segunda metade do século XIX, e a capital do Estado Porto Alegre, tinha funções
predominantemente administrativas.
Mas com a prolongada crise do setor pecuário, que teve inicio nas primeiras décadas do
século XX, as charqueadas e posteriormente os frigoríficos da Metade Sul foram incapazes de
sustentar um processo de crescimento e mesmo introduzir alguma diversificação.
Os limites da capitalização da economia charqueadora, o baixo nível
tecnológico da pecuária gaúcha – que obrigava uma criação de caráter
extensivo, mais a tradição escravocrata que impedia a adoção do trabalho
assalariado na sua forma mais moderna, fizeram com que as crises fossem
constantes em função da concorrência com os países do Prata, onde o
governo estimulava o avanço tecnológico, (com cuidados veterinários,
cercamentos, confinamentos, etc), além de há muito tempo, terem
adotado a mão-de-obra assalariada. (Engevix, 1997, p.7)
Desta maneira, delineava-se então, o quadro que viria a se tornar uma das características
principais da configuração espacial da economia gaúcha.
Conforme aponta Alonso e Bandeira (1990, p. 74) “Um Norte mais dinâmico e
economicamente mais diversificado e um Sul de crescimento lento e de estrutura produtiva
mais especializada”.
Em parte essas diferenças podem ser explicadas pelo assentamento dos imigrantes na
Metade Norte, que contribuíram para explicar as taxas mais elevadas de crescimento que eram
apresentadas por esta região, isto porque, esta imigração criou uma sociedade bastante distinta
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da Metade Sul, por que nela existia a pequena propriedade privada, aliada a uma agricultura
diversificada, gerando assim uma distribuição de renda menos concentrada.
O padrão mais concentrado de assentamento rural resultava, além disso, em uma
densidade demográfica muito maior, sendo que a rede urbana era constituída por um número
grande de pequenos centros situados a pequena distância uns dos outros.
A este respeito Andreoli (1989, p. 102) diz que “O resultado foi um crescimento
extensivo da produção agrícola e artesanal com base na pequena produção familiar rural
produtora de bens agrícolas e artesanais, refazendo-se assim, com razoável grau de
aproximação à via histórica de desenvolvimento do capitalismo europeu (...)”.
A variável imigração, parece ter sido um dos fatores determinantes, destas desigualdades
regionais que assolam a Metade Sul, isto por que, a partir de 1890 a população da Metade
Norte cresce sempre em patamares superiores a Metade Sul.
Essa relação da taxa de crescimento populacional teve reflexos na participação de cada
região, no total da população do Estado, como demonstra a Tabela 1.
TABELA 1 - População total e participação de cada Metade no total do Estado 1890-
2000
Anos população Participação%
M. Norte  M. Sul Total M. Norte M. Sul
1890  415.681 481.774 897.455 46,32 53,68
1900 526.944 622.126 1.149.070 45,86 54,14
1920 1.142.268 851.100 1.993.368 57,30 42,70
1940 2.115.910 1.204.779 3.320.689 63,72 36,28
1950 2.755.862 1.408.959 4.164.821 66,17 33,83
1960 3.713.793 1.735.030 5.448.823 68,16 31,84
1970 4.730.042 2.025.416 6.755.458 70,02 29,98
1980 5.628.926 2.144.911 7.773.837 72,41 27,59
1991 6.749.086 2.389.584 9.138.670 73,85 26,15
2000 7.012.367 3.169.382 10.181.749 68,87 31,13
Fonte: Núcleo de Indicadores Sociais/FEE, Anuário estatístico do RS 1998/FEE,
Relatório Engevix 1997.
Através dos dados apresentados, pode-se notar claramente o declínio da participação
populacional da Metade Sul a partir de 1890. Desde a República Velha (1889-1930), a região
manteve uma contínua queda da participação no total da população do Estado. Entre 1890 e
1991, enquanto o Sul decaiu de uma concentração superior a 53% para pouco mais de 26%,

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